sábado, 25 de abril de 2009

Aula de vôo

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O conhecimento caminha lento, feito lagarta.
Primeiro, não sabe que sabe e,
voraz, contenta-se com o cotidiano orvalho,
deixado nas folhas vividas das manhãs.

Depois pensa que sabe,
e se fecha em si mesmo:
faz muralhas, cava trincheiras, ergue barricadas.
Defendendo o que pensa saber,
levanta certeza na forma de muro,
orgulhando-se do seu casulo.

Até que, maduro, explode em vôos,
rindo do tempo que imaginava saber
ou guardava preso o que sabia.

Voa alto sua ousadia,
reconhecendo o suor dos séculos,
no orgalho de cada dia.

Mesmo o vôo mais belo
descobre um dia não ser eterno.

É tempo de acasalar,
voltar à terra com seus ovos,
à espera de novos e prosaicos lagartos.

O conhecimento é assim,
ri de si mesmo e de suas certezas.
É meta da forma, metamorfose,
movimento, fluir do tempo,
que tanto cria como arrasa.
E nos mostra que, para o vôo,
é preciso tanto o casulo como a asa.
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( mauro Iasi)
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