segunda-feira, 9 de março de 2009

O outro

"Outrem é para nós um poderoso fator de distração, não apenas porque nos perturba constantemente e nos arranca ao pensamento atual, mais ainda porque a simples possibilidade do seu aparecimento lança um vago luar sobre um universo de objetos situados à margem da nossa atenção mas capaz a todo o momento de se lhe tornar o centro"...
"Em suma, outrem assegura as margens e transições do mundo. Ele é a doçura das contiguidades e semelhanças... Quando nos queixamos da maldade de outrem, esquecemos esta outra maldade mais temível ainda, aquela que teriam as coisas se não houvesse outrem. Ele relativiza o não sabido, o não percebido; pois outrem para mim introduz o signo do não percebido no que eu percebo, determinando-me a aprender o que não percebo como perceptível para outrem. Em todos estes sentidos é sempre por outrem que passa meu desejo e que meu desejo recebe um objeto".


(Gilles Deleuze, Michel Tournier e o Mundo sem Outrem)


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